Reportagem da Folha Online sobre a desigualdade social na Índia.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/reuters/ult112u32597.shtml

Índia cresce, mas pobreza continua aguda
SUROJIT GUPTAda Reuters,
em Mirjapur (Índia)
Shontish Hansda, 35 anos, está deitado no chão diante de
sua choupana, respirando com dificuldade numa tarde quente de verão. A cada
poucos minutos, o lavrador pobre, que sofre de tuberculose, tem um acesso de
tosse.
Hansda vive em Mirjapur, no Estado de Bengala Ocidental, governado
pelos comunistas. "Não tenho dinheiro. Ganhei remédios do governo algum tempo
atrás. Mas dizem que preciso me alimentar bem para combater a tuberculose, e não
tenho como comprar comida boa", explica.
Hansda é um dos 250 milhões de
indianos que vivem na pobreza absoluta, com renda inferior a US$ 1 por dia e sem
acesso a comida saudável, saúde básica e água potável. "A pobreza é um problema
agudo na Índia", disse Arun Kumar, professor na prestigiosa Universidade
Jawaharlal Nehru, em Nova Déli.
Apesar de o PIB ter aumentado 8,2% no ano
passado, as mortes por fome são freqüentes na zona rural, onde vive quase 70% da
população. Uma revisão da economia indiana publicada por um instituto de
pesquisas privado concluiu que a Índia, com mais de 1 bilhão de habitantes, tem
mais famílias pobres do que África, Ásia e América Central juntas.
O Banco
Mundial afirma que a desnutrição ainda constitui uma "emergência silenciosa" na
Índia, na medida em que quase metade de todas as crianças com menos de 5 anos
são subnutridas e que 34% dos recém-nascidos apresentam peso insuficiente.
O
novo governo prometeu aumentar os gastos com saúde para pelo menos 2% a 3% do
PIB nos próximos cinco anos e 6% na área de saúde.
"O que nos falta é uma
ênfase adequada sobre projetos que beneficiem os setores pobres, a redução dos
obstáculos burocráticos e uma estratégia de realização das reformas
necessárias", diz Ajitava Raychaudhuri, professor de economia na Universidade
Jadavpur, em Calcutá.
"Voto, mas não entendo a política", diz Sushil,
desempregado de Mirjapur. "Minha única preocupação é o futuro de minha mulher e
de meus filhos."